06 agosto 2012


Quantitative Easing # 3

Sempre que o crescimento do economia norte-americana decepciona, o mercado fica na expectativa de nova rodada de expansão monetária do FED.

Depois de duas rodadas de expansão e outras medidas quando da crise de 2008, o portfolio de investimento do FED está em 2,9 trilhões de dólares. É muito dinheiro!

Normalmente, a autoridade monetária atua sobre a taxa dos FED funds, que é o preço que baliza a troca de reservas entre os bancos nos Estados Unidos, operando, se necessário, no mercado aberto para fazer chegar a taxa praticada no nível desejado. Mas essa taxa chegou a um nível tão baixo que esse canal de influência da política monetária secou. É a famosa “armadilha de liquidez” definida por Keynes. A saída encontrada por Bernanke, estudioso da grande depressão dos anos 30, foi atuar nas taxas de juros de médio e longo prazo, via compra dos títulos mais longos, no mercado. Não só títulos federais, mas também títulos garantidos por hipotecas (as mortgage backed securities), procurando, aqui, reviver o mercado imobiliário via maior oferta setorial de crédito e baixa de taxas, além de dar liquidez às instituições financeiras detentoras desses títulos. Essa política teve sucesso, no sentido de que a remuneração dos títulos do Tesouro Norte-americano de 10 anos, os que balizam os empréstimos imobiliários,  estão no nível record de 1,39% ao ano, juros reais negativos. E os financiamentos imobiliários de 30 anos de prazo estão no nível de 3,5 % , também um record. Certamente essa política teve resultados, e o desempenho da economia estaria muito pior sem essa atuação. Mas não foi o suficiente para gerar o nível de crescimento que se costuma ter na fase de recuperação do ciclo econômico.

Essa preocupação com o crescimento econômico decorre do fato de o Banco Central norte-americano ter o duplo mandato de cuidar do controle da inflação e do crescimento da economia (ao contrário do nosso Banco Central, cujo mandato cinge-se apenas ao campo inflacionário). As baixas taxas de inflação, as registradas e as esperadas no futuro próximo, têm permitido ao FED ir muito além do que seria o normal, à primeira vista, no estímulo da economia, embora exista o potencial inflacionário desse enorme volume de liquidez lançado no economia, que por ora não assusta.

É opinião da maioria dos especialistas que uma nova expansão monetária teria pouco efeito no crescimento da economia, dados os níveis já bem baixos das taxas de juros e o fato de muitas empresas estarem com alto grau de liquidez. Então, por que essa aflicão do mercado se o FED vai ou não realizar uma nova rodada expansionária (int) A razão é simples: uma nova injeção de liquidez vai transbordar para os mercados de diversos ativos, aumentando sua demanda e fazendo subir os preços. Confirmado o QE3, o mercado de ações vai se animar e os preços irão subir. Mas será, de novo, um ganho que irá se esgotar em algum tempo, pois não altera a situação básica da economia.

A dificuldade de a economia deslanchar de vez decorre em grande parte do impacto da crise sobre o consumo das famílias, que representa cerca de 2/3 do PIB norte-americano,   função do nível de endividamento dessas famílias, da incerteza criada pelos altos níveis de desemprego e da condição do mercado imobiliário, sendo as casas o mais valioso ativo das famílias (cerca de 25% das casas hipotecadas estão com o seu preço abaixo do valor do financiamento). Contribui muito, também, o impasse político que imobiliza a política fiscal e, pior ainda, a torna contracionista. Nas circunstâncias, a política fiscal expansionista seria o mecanismo recomendado. Na parte fiscal, temos ainda a perspectiva de aumento de impostos, face à não renovação de seus cortes, e grandes reduções de despesas programados para a virada do ano a afetar as expectativas dos agentes econômicos – o que está sendo denominado de “fiscal cliff”, precipício fiscal no qual cairia a economia. Frase de efeito que tenta fazer com que um problema grave se torne desastroso, o que não é o caso. Restam então o investimento, que não aumenta a nível de empresas sem a perspectiva de crescimento da demanda e o do setor público, limitado pela restrição fiscal, e o saldo das transações externas, este sim beneficiado pela desvalorização do dólar que tende a ocorrer com a expansão monetária. Mas com a Europa brincando com a recessão e com os BRICS perdendo força não há tanto espaço para crescimento das exportações.

Da falta de melhor alternativa, decorre a possibilidade de o FED aumentar a liquidez da economia, apesar de pouca efetiva. Se ocorrer, o QE3 vai ser elogiado pelos democratas, criticados pelos republicanos e pelo ministro Mantega e festejado pelo mercado.